domingo, 10 de outubro de 2010

Paixão: Fantasia que colore a realidade?

    Quando se pensa em paixão, automaticamente a palavra remete a relacionamentos afetivos, porém não a isso a mesma se resume. Ela tem sido confundida por séculos com o sentimento de amor profundo que, por sua vez,  permeiam os sedentos corações carentes de aconchego. Seria considerável permitir tal confusão?
    Não é de hoje que os cientistas investigam a natureza instintiva da paixão e sua função evolutiva na espécie humana. Assim como todas as emoções, ela precisa de algo ou alguém que a "estimule", para que assim possa continuar sendo fabricada pelo nosso organismo e influenciando a produção em abundância do neurotransmissor dopamina, por exemplo. Todas as alterações neuroquímicas refletem na maneira em que percebemos o ambiente, as circunstâncias, nossa vida no geral, a motivação e, principalmente como enxergamos "o outro".

Um pequeno exemplo da manifestação da paixão... [em letras]

   De repente o peito aperta, a respiração se torna profunda. Sinto-me como estivesse flutuando meio ao paraíso inimaginável. Não dá para dizer o quanto essa pessoa me faz bem, me faz sentir uma sensação de que tudo é possível, que há uma infinitude no Universo ao qual faço parte. Não suporto a ideia de me ver sem esse sentimento. Ele nasceu para pertencer a minha essência...

Filosofando sobre...

   Seria a paixão responsável pelo abandono da nossa verdadeira condição, ou seja, da solitude? 
   Algo que é nitidamente perceptível é que quando a paixão é canalizada para fins afetivos há uma diminuição de momentos relaxantes consigo mesmos e, automaticamente, assim como uma droga, há um período crítico de dependência. O mesmo pode não acontecer com pessoas que usam a paixão para aumentar sua produtividade nas empresas, nos relacionamentos com amigos, nas aventuras para passeios pessoais, esportes ou artes. Ao dar "outra função" para a paixão (a não ser a reprodutiva), transformamo-na num sentimento de pura nobreza que instaura uma ponte a rumos para a felicidade e ao sucesso. 
    Quando reduzimos a paixão em relacionamentos afetivos começamos a dirigir a "nobreza de nossas ações" apenas para a pessoa desejada e, por conseqüência, ignoramos coisas muito importantes que acabam por refletir em nossas vidas no futuro (arrependimentos). A paixão é motor que rege a motivação dos seres humanos da maneira mais potencial e límpida. Ignorar sua importância é como dar um tiro para não acertar no alvo. Não faz sentido.
    Será que a paixão rege a nossa motivação para algo ou ela nos rege para algo que nos motiva?


Paixão: Diamante ou Dinamite?


   Todos possuímos algo chamado ego. Ele começa a se formar assim que abrimos os olhos e vai seguindo as trajetórias de nossas vidas, sendo uma parte primordial de algo que denominamos "personalidade". O ambiente que crescemos, a educação que recebemos, influências externas de diversos tipos, tais como: amigos, pensamentos alheios, ideias de diversas naturezas, atividades, ou seja, tudo o que fizemos e que, de certa forma incorporamos, constituem nossas "experiências de vida". Cada um encara e interpreta uma experiência de vida de uma maneira singular, particular. Cada pessoa é como se fosse "um mundo orbitando" em torno de si mesma e de uma estrela maior e todas fazem parte de um mesmo sistema. 


    Quando duas pessoas se apaixonam elas começam a orbitar uma em torno da outra e a energia apaixonada é o que impede que se choquem, provocando um desastre. Tudo é lindo, harmonioso, reluzente. Não há nada mais prazeroso do que orbitar dessa maneira, todavia a realidade gravitacional é inegavelmente certeira e vai influir na percepção desses corpos celestes. A conseqüência é sempre a mesma. A energia apaixonada se enfraquece com a influência da gravidade da "realidade" e os dois corpos vão se aproximando, se conhecendo melhor, a ponto de mapear crateras um do outro até, 


inevitavelmente se chocar de uma vez. Então 
a energia Diamante dá vazão a energia Dinamite e uma grande explosão acontece.


    Aos pedaços, os corpos tentam dolorosamente se reconstituir a fim de formarem um "mundo novo" após tal episódio. Os relacionamentos vão e vêm e as explosões são cíclicas. Cada uma ajuda a demolir o antigo para dar lugar a experiências que parecem repetidas por um lado, mas por outro incrivelmente novas que vão fazer parte do "Baú Dourado dos Acontecimentos da Vida".